quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A arquitetura do “Nosso Lar”

O filme “Nosso Lar” foi visto por 1,6 milhões de pessoas e acumula renda de R$ 16, 2 milhões [1]. Como professor de arquitetura, observo muito o que se passa nos filmes, relacionado com a minha matéria. E confesso que fiquei muito decepcionado com o que é  mostrado no filme como sendo a arquitetura de um plano mais elevado que o nosso. Fiquei pensando: “Você não precisa morrer para desfrutar dessas maravilhas arquitetônicas; basta ir a Dubai. Dubai é o nosso lar”. Pelo menos é esta a arquitetura de lá. E outra. Quando o Santiago Calatrava morrer, o que espero que demore bastante, ele terá trabalho garantido no plano mais elevado.

 
Nosso Lar. Imagem <1.bp.blogspot.com> e Dubai. Imagem <dreamfeel.files.wordpress.com>
 Afinal de contas, aqueles edifícios são o superlativo do que  a mais próspera sociedade liberal, o mais afluente capitalismo das grandes metrópoles, os mais delirantes incorporadores sonham para as suas realizações comerciais. Fico pensando se isto tem a ver com o mundo espiritual. Se aquela arquitetura ociosa estruturalmente, arrogante formalmente, monumental e exibicionista é aquela que representa os valores transmitidos pela idéia do filme.
Foi dito que o mapa da cidade, bem como a arquitetura das edificações foram criados pela médium Heigorina Cunha através de suas observações realizadas durante suas saídas do corpo (desdobramento) em 1979.[2] Pode tratar-se do caso de formas pensamento, de que nos fala a Teosofia. O que quer dizer que pode ser uma criação mental, e não uma visão objetiva.
Não se trata, obviamente, de especulações sobre uma outra vida, mas das representações que aqui temos dela, que, obviamente, correspondem ao que pensamos de mais avançado. E constatamos que muita gente ainda continua a aplicar aos níveis de representação aqueles parâmetros do crescimento ilimitado que atribuímos às ciências, mas não às artes. Mais avançado, para as pessoas que assim concebem o mundo é a ultra-tecnologia, não o conhecimento aplicado para o seu o controle.  
 (E) Edifício administrativo do Nosso Lar. Imagem <1.bp.blogspot.com> e (D) Cidade das Artes de Valência, de Santiago Caltrava. Imagem <www.bloggersbase.com>
Estamos ainda presos às idéias da Modernidade, segundo a qual a natureza deveria ser domesticada e submetida à vontade do homem. Passa longe de nós as idéias de um maior convívio com o meio ambiente, menos intervencionismo.
O livro em si não se detém muito nestes aspectos tecnológicos. Exceção se faça ao aeróbus, veículo suspenso do solo a uma altura de cinco metros mais ou menos e repleto de passageiros.” O hospital, que mais lembrava espacialmente, no filme, uma enfermaria oitocentista não é descrito no livro. De nada adianta aos arquitetos estarem preocupados com dotar os hospitais de um ambiente mais aconchegante e humano. No plano astral, segundo os criadores do filme, ele será daquele jeito mesmo que conhecemos, tipo panótico, gélido e asséptico. Assim como a fila tipo INSS para falar com o Ministro do Auxílio Paulo Goulart, que no filme parecem horas de espera num banquinho desconfortável, no livro são apenas alguns minutos. Menos Sr. diretor.
fonte: Coisas de arquitetura
 

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